O Vale do Anhangabaú é um lugar fundamental para a capital paulista e para quem vive nela. Testemunha e protagonista da gênese da cidade, parte de um dos principais polos de emprego do município, concentrador de ampla malha de transportes e equipamentos públicos, sede de diversas secretarias dos governos estadual e municipal; abrigo dos que não têm casa, local de trabalho formal e informal, trajeto de catadores de material reciclável, ponto de prostitutas, artistas de rua, skatistas, pastores com seus proselitismos, officeboys e engravatados que se encontram nos canteiros do Vale pra fumar um no pós-almoço; contraditório, com seu rio enterrado, suas fontes secas e descuidadas, e, ainda assim, um oásis de palmeiras imperiais e grama num dos lugares mais impermeabilizados da cidade; monumental desde o Viaduto do Chá; acolhedor num dos bancos aos pés da escadaria da Praça Ramos de Azevedo; livre dos carros graças ao projeto urbanístico dos arquitetos Jorge Wilheim, Jamil Kfouri e Rosa Kliass, que obrigaram os automóveis a circularem sob a extensa laje que une suas extremidades; lugar de encontros artísticos, de shows e festas populares; lugar de ação política, de manifestações, local do Ocupa Sampa em 2011, para sempre o ponto de encontro de mais de um milhão de pessoas no movimento das Diretas Já em 1984. Por tudo isso, e pelos outros milhões de motivos particulares que cada pessoa terá na sua percepção − boa ou ruim − sobre aquele espaço, o Vale do Anhangabaú é um lugar fundamental para a cidade e seus habitantes, simplesmente porque é amplo, aberto, livre, democrático e gratuito o suficiente para abarcar os extremos de São Paulo e toda a gradação de dissensos que existe entre eles.